Bolsa
Família tem efeitos no consumo de nutrientes – Estudo aponta maior
consumo de fibras, carboidratos e vitaminas, além da melhora dos índices
antropométricos
O
economista Henrique Kawamura mapeou em pesquisa do Programa de
Pós-graduação em Economia Aplicada da Escola Superior de Agricultura
Luiz de Queiroz (Esalq) da USP, em Piracicaba, os efeitos do Programa
Bolsa Família (PBF) no consumo de nutrientes e índices antropométricos.
Com a proposta de avaliar os reflexos de programas sociais sobre seus
beneficiados, o estudo constatou aumento no consumo de fibras,
carboidratos e algumas vitaminas e minerais, além da melhora dos índices
antropométricos em crianças e adolescentes. O trabalho foi o segundo
colocado no 19º Prêmio Tesouro Nacional, na categoria de Economia do
Setor Público.
O
estudo utilizou dados da Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) de
2008-2009. “Para o consumo de nutrientes, observamos uma sub amostra
constituída por 25% da amostra original da POF, com pessoas com 10 anos
ou mais de idade, às quais foi solicitado que registrassem todo o
alimento consumido durante 24 horas em dois dias não consecutivos”,
explica o economista. A partir daí, a quantidade de alimentos da
caderneta pessoal foi transformada em quantidades de nutrientes, as
quais foram utilizadas para analisar os efeitos do PBF sobre o consumo
de nutrientes. Os índices antropométricos, baseados na amostra original,
foram obtidos usando a altura e peso das pessoas para calcular os
escores Z de altura-para-idade, peso-para-idade e IMC-para-idade.
Para
atingir o objetivo, os dados foram separados em dois grupos,
contemplando os beneficiados e os não beneficiados pelo PBF.
Inicialmente foi analisada a probabilidade de uma pessoa receber ou não o
benefício, para encontrar pessoas beneficiadas com características
muito próximas às das não beneficiadas. “Essa comparação baseada em
escores de propensão dá o nome ao método utilizado nesse estudo:
Propensity Score Matching”.
Alimentos saudáveis
Segundo
o pesquisador, os resultados obtidos sugerem que o PBF contribuiu para
que as pessoas tivessem acesso a alimentos saudáveis. “Encontramos
aumento no consumo de fibras, carboidratos e algumas vitaminas e
minerais. Houve também uma redução no consumo de colesterol e de sódio.
Ademais, ressalta-se o consumo maior de ácidos graxos essenciais para a
saúde. Aliado à prática de boa alimentação, constatou-se que o PBF
colaborou para que crianças e adolescentes obtivessem índices
antropométricos considerados adequados em comparação com seus pares não
beneficiados”, conta Kawamura.
Segundo
o pesquisador, que teve orientação de Rodolfo Hoffmann, docente do
Departamento de Economia, Administração e Sociologia (LES) da Esalq, a
década de 1990 marcou a expansão dos programas sociais em países em
desenvolvimento, sendo que muitos desses programas consistem em aliviar a
pobreza extrema e promover melhoras à vida de pessoas vulneráveis a tal
condição. “Com isso, tornou-se importante avaliar os efeitos de
programas sociais a fim de verificar se o dinheiro designado pelos
governos tinha o impacto esperado sobre seus beneficiados. Levando em
consideração a importância dessa avaliação, diversos pesquisadores
iniciaram estudos tendo como foco o principal programa federal
brasileiro”, comenta Kawamura.
Como
tese de doutorado, a pesquisa foi defendida em maio. No entanto, seu
mérito teve desdobramento em 5 de novembro, quando, a Comissão Julgadora
do 19º Prêmio Tesouro Nacional – 2014 reuniu-se e apontou, na categoria
de Economia do Setor Público, o segundo lugar para o trabalho de
Henrique Kawamura. Idealizado pela Secretaria do Tesouro Nacional, o
certame estimula a pesquisa na área de Finanças Públicas, reconhecendo
os trabalhos de qualidade técnica e de aplicabilidade na Administração
Pública.
Concorrem
nas categorias Política Fiscal, Economia do Setor Público e Tópicos
Especiais trabalhos individuais ou coletivos, de candidatos de qualquer
nacionalidade e formação acadêmica. “O Prêmio é um dos mais importantes e
concorridos na área de economia. Creio que essa conquista não seja só
minha mas também da Esalq, que me possibilitou ter as condições
necessárias para realizar o estudo”, avalia Kawamura.
Matéria de Caio Albuquerque, da Esalq / Agência USP de Notícias.
Publicado no Portal EcoDebate, 24/11/2014. www.ecodebate.com.br
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