Um clamor por misericórdia, eis o presente ofertado a Alagoa Grande na Passagem de seus 150 Anos.
O
mês de julho começou e enquanto todos esperávamos elogios pelo mês de
aniversário da cidade de Alagoa Grande, uma exaltação à cultura ou ao
passado honroso, essa semana a cidade ganhou destaque no noticiário
nacional através de uma situação alarmante que comoveu inúmeros
brasileiros em minutos, só ainda não convenceu muito bem o prefeito da
cidade.
A
notícia trouxe Dona Arlinda, uma viúva que vive com seus sete filhos na
comunidade Barreira e tem se alimentado de ratos, por não ter condições
mínimas de sobrevivência. Há pouco tempo, seu marido resolveu
suicidar-se por achar vergonhoso dever R$ 150,00 reais e saber que não
teria como pagar. Diga-se de passagem, esse dinheiro não foi gasto com
jogatinas, mas com comida!
O
fato gerou comoção, muitos que assistiram agradeceram aos céus o que
tinham e tentaram se manifestar de inúmeras formas. Mas, com todo
respeito, não foi o que aparentou advindo do Prefeito Hildon Régis, que
quando precisou se manifestar, utilizou de argumentos frios e
meticulosos, tentando contornar o desamparo àquela comunidade que já se
estende por décadas.
De acordo com o site do portal correio, eis a palavra do Senhor Prefeito sobre a situação de Dona Arlinda: “É
uma região carente, mas o fato dessa e de outras famílias comerem caça
como carne de rato do junco, teju ou preá não pode ser controlado pelo
poder público.”Pergunto: é realmente hábito das nossas casas termos
ratos de esgotos como prato principal na nossa mesa? E mesmo que
porventura venha a ser uma prática daquela comunidade, não cabe ao Poder
Público cuidar da
saúde pública? Ou será que se voltarmos ao
canibalismo o poder público também continuará inerte?
O Senhor Prefeito ousou dizer mais: “Já
visitamos eles no ano passado e foi oferecida uma moradia de aluguel,
custeada pela prefeitura, para que eles pudessem viver em um local
melhor, mas a família recusou.” Pensemos juntos mais uma vez, um pai de família que temsete filhos
e uma esposa para dar de comer, que vê toda a sua dignidade perdida
quando percebe que não tem R$ 150 reais para quitar uma dívida de
comida, recusaria um apoio? Negaria uma solução? E por que só ajudar
àquela única família e não a todos da comunidade?
O
que está faltando é boa vontade, bom senso e boa-fé, pois o próprio
Prefeito afirmou na mesma entrevista já ter conhecimento da situação
daquela família, pronunciamento que causa indignação a qualquer leitor
e, principalmente, ao leitor alagoagrandense. Todos os políticos desta
cidade conhecem a Barreira, sabem que aquele espaço é abandonado e que
precisa de um investimento sério na infraestrutura e saneamento básico,
obrigações que são exclusivas do Poder Executivo Municipal. Se a
situação está sem controle, é porque o gestor não está cumprido
corretamente com a função ao qual foi designado. Está sendo ocioso com o
compromisso firmado diante de todos os cidadãos alagoagrandes,
inclusive com a Zona Rural.
É
certo de que existem muitas outras “Arlindas” naquele espaço, mas o que
não existe é interesse dos dominantes em reestruturar o local.
O
que está faltando é reflexão na hora que estiverem naquela estrada. Que
observem os lados, olhem para aquele povo que está subindo e descendo
com água barrenta na cabeça, crianças que arriscam a vida naquelas
ladeiras íngremes, casas caindo e o grau de miserabilidade crescente;
que deixem de lado paliativos como “moradia de aluguel” para uma única
família, mas que venham a pensar mais no coletivo. Desenvolvam um
projeto de misericórdia para aquele povo, pois o dinheiro público vem, o
que não está vindo é o interesse de agir.
Sinceramente,
não há como apagar a falta cometida, considerá-la nula e não
acontecida, pois esse é um poder que não se tem, ou uma tolice que é
melhor evitar. O passado é irrevogável e toda verdade é eterna. Mas se, a
partir de agora, pudermos fazer e, acima de tudo, cobrar do Poder
Público, algo positivo para aquele povo, pode ser que a dor se
transforme em alegria e que, finalmente, o peso do voto daqueles
cidadãos, tenham tanto valor quanto o voto do próprio prefeito. Afinal,
se tudo continuar na inércia da miséria, será inteligente da nossa parte
manter a confiança em quem não está sabendo administrar? Pensemos.
Por
fim, quero parabenizar ao portal do Júlio pela reportagem, mesmo
escrevendo para o portal Paó, pois se não fosse por ele, poucas pessoas
teriam conhecimento do que estava acontecendo com aquela família e com
toda a comunidade.
José Gildo de Araújo
DRT 4580/97
kk
ResponderExcluirhttps://www.youtube.com/watch?v=S99298vAHbg&feature=share
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